
12 de novembro de 2019.
Parece estranho mas infelizmente é uma realidade ter que se escrever sobre racismo nos dias de hoje. Centenas de pessoas batalharam para que, quem tem pele mais escura (sim, porque é só essa pequena diferença) possa ter mais facilidades na vida, mais direitos. Aliás, para que possa ter direitos sequer.
Grandes homens e mulheres lutaram e defenderam a sua raça, a sua causa, os seus direitos até ao fim dos seus dias:
– Nelson Mandela, que até foi preso por batalhar contra o Apartheid na África do Sul.
– Elizabeth Eckford foi uma primeiras estudantes afro-americanas a frequentar o Little Rock Central High School, em Little Rock, no estado de Arkansas.
– Martin Luther King Jr, conhecido pelo seu famoso discurso: “I have a dream” (Eu tenho um sonho”.
– Rosa Parks, que se recusou a dar o seu lugar no autocarro a um homem branco que exigia que ela saísse só por ser negra e assim gerou o famoso boicote aos autocarros de Montgomery.
E podíamos aqui falar de muitas mais pessoas que lutaram e até deram a vida para ir contra a desigualdade racial.
Seria de esperar que em pleno século XXI, as coisas estivessem melhor e esta discriminação tivesse desaparecido mas não é isso que acontece. Todos os dias alguém, em algum momento, num canto qualquer do mundo sofre racismo. Seja uma agressão verbal, física ou psicológica, a verdade é que acontece. E vemos bastante disso no futebol.
Esse desporto considerado o desporto Rei. Que envolve milhões e milhões de pessoas, não os desportistas como os adeptos, tem imenso atos de racismo. Seria de esperar que, se utilizasse o futebol como uma arma contra o racismo mas, por vezes, os próprios desportistas atacam a cor de pele dos seus colegas de profissão. Por exemplo, quando Moise Kean foi alvo de insultos racistas por parte dos adeptos do Cagliari e, após o jogo, Bonucci falou à imprensa sobre o assunto e disse que a culpa era 50-50. Mas digam, onde é que a culpa é do Kean? Ele não tem culpa de ter nascido com a pele mais escura. E não tem culpa que as “pessoas” se achem no direito de criticar quem tem a pele mais escura.
Mas há muitos mais casos de racismo no futebol. Os adeptos da Bulgária que, aquando a sua seleção estava a jogar contra Inglaterra, passaram o jogo a cantar cânticos racistas e a fazer saudações nazis.
Os adeptos do Slavia Praga que utilizaram cânticos racistas para atacar Nelson Semedo quando estavam a jogar contra o Barcelona.
Paul Pogba, Sterling, Balotelli, Rashford Ilaimaharitra e tantos outros jogadores já sofreram ao levar com insultos racistas durante jogos. Imaginem, estão apenas a fazer o vosso trabalho, a seguir o vosso sonho e são obrigados a ouvir insultos contra a vossa cor de pele. É triste. É doloroso. É impensável.
O mais recente caso e que me fez escrever hoje é o caso do Taison. Passou o jogo inteiro a ouvir insultos racistas e, já na segunda parte, tomou uma atitude. Atirou a bola para a bancada de onde vinham os insultos e mostrou o dedo do meio e foi expulso do jogo. Atitude condenável? Em situações normais diria que sim, porque sabemos que responder ao mesmo nível nunca leva a lado nenhum mas, nesta situação em particular, a resposta foi bem dada. E condenável só mesmo a expulsão. Todos têm ficado calados, feito campanhas anti racismo, e onde é que isso tem levado? A lado nenhum. Quanto muito o racismo está a intensificar-se cada vez mais no futebol. E isto porquê? Porque não há punição. Os adeptos lá poderão continuar a ir ao estádio mas o Taison é que é expulso e é castigado por se defender? Não é ele quem está errado aqui.
Enquanto não houver uma punição, estes gestos vão continuar a acontecer porque ninguém vê as consequências dos seus atos. Porque se obriga os jogadores a sofrerem em silêncio em vez de os deixar demonstrar o quão afetados estão de forma a, quem fez a asneira, perceber que errou. O sistema está estragado. 1000000000000 campanhas anti-racismo. Campanhas essas que se baseiam em meia dúzia de vídeos de jogadores a dizer “Say No To Racism”, de t-shirts das competições europeias com essa mesma frase estampada na manga e de umas quantas imagens partilhadas nas redes sociais com uma # com a mesma frase.
E isto leva-nos onde? Ao sítio onde estamos neste momento. Com o racismo a ter lugar nas bancadas, com jogadores a serem castigados por se defenderem quando são alvos de racismo e com ninguém a fazer nada para prevenir estas situações.
Passem multas. Percebam quem são os adeptos que cantam os cânticos racistas e proíbam-nos de entrar no estádio. Ofereçam um jogo à porta fechada ao clube cujos adeptos tiveram atitudes racistas. E protejam os jogadores em vez de os castigarem por se defenderem. Arranjem verdadeiras consequências para quem está verdadeiramente errado.
Tomem atitudes reais para prevenir este problema em vez de tentarem suavizar com algumas campanhas.
Se atuaram tão rápido (e mal neste caso) para tentarem castigar o Bernardo Silva por uma brincadeira com um amigo, então atuem tão rápido (mas bem) para castigar quem realmente tem atitudes racistas. 1 jogo, 58 mil euros de multa e ainda é obrigado a participar numa formação educacional. É isso que uma brincadeira vale. O Mendy até se ofereceu para pagar a multa mas o Bernardo recusou. Se calhar até nisso irão ver uma atitude racista… Honestamente, já nem sei o que pensar desta sociedade.
Aos adeptos do desporto do Rei, peço para pararem. Para realmente dizerem não ao racismo. Durante o verão tentam ficar morenos. Então porquê é que depois insultam quem tem a pele mais escura? Não faz sentido.
Usem este texto como forma de porém a mão na consciência e de perceberem que estão errados. Temos que evoluir. Parar com a discriminação. Todo o tipo de discriminação e não só o racismo.
#EqualGame